Texto: João 1.19-28
A igreja é a organização instituída por Deus para arrebanhar
o seu povo. E o batismo é a porta de entrada na igreja.
“O batismo é um
sacramento do Novo Testamento, instituído por Jesus Cristo, não só para
solenemente admitir na igreja a pessoa batizada, mas também para servi-lhe de
sinal e selo do pacto da graça, de sua união com Cristo, da regeneração, da
remissão dos pecados e também da sua consagração a Deus por Jesus Cristo a fim
de andar em novidade de vida”.(CFW)
Sacramento
é uma ordenança sagrada, instituída por Jesus para simbolizar, selar e aplicar
ao crente os benefícios da salvação. Jesus instituiu dois sacramentos: o
Batismo e a Santa Ceia.
O batismo foi instituído por Jesus Cristo após a sua
ressurreição. Ele ordenou aos discípulos: “Ide, portanto, fazei discípulos de
todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”(Mt
28.19). “Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será
condenado”(Mt 16.16). O batismo corresponde à circuncisão praticada na antiga
aliança. A circuncisão foi instituída como sinal e selo do pacto estabelecido
com Abraão (Gn 17.9-14;Rm 4.11-13). E o batismo é o sinal e o selo da nossa
aliança, estabelecida por Jesus Cristo.
Após ouvir o sermão de Pedro, no dia de Pentecoste, quase
três mil pessoas se sentiram tocadas e lhe perguntaram: “Que faremos?”(At
2.37). e a resposta foi: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado”(At
2.38). Mas o batismo, por ser um sacramento da nova aliança, é ainda mais rico
de significado do que a circuncisão.
Em Rm 5, Paulo traça um paralelo entre Adão e Cristo. Ele
mostra que, quando nascemos, nos identificamos com adão. E, em virtude da queda
de nossos primeiros pais, nascemos pecadores. “...por um só homem entrou o
pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os
homens porque todos pecaram”(Rm 5.12). Mas quando recebemos Jesus como nosso
Senhor e Salvador, nós nos identificamos com ele. “Porque, como pela
desobediência de um só homem muitos se tornaram pecadores, assim também por
meio da obediência de um só muitos se tornaram justos”(Rm 5.19). Por isso a
Bíblia afirma que fomos crucificados (Rm 6.6), morremos (Rm 6,- 8;Cl 3.3;2 Tm 2.11) e ressuscitamos (Ef
2.6; Cl 2,12;3.1) com Cristo. “...um morreu por todos, logo todos morreram”(2Co
5.14), afirmou o apóstolo Paulo. E o batismo significa e sela a nossa união com
Cristo. “Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que como
Cristo ressuscitou dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós
em novidade de vida. Porque se fomos unidos com ele na semelhança da sua morte,
certamente o seremos também na semelhança da sua ressurreição” (Rm 6.4,5). O
batismo significa e sela a nossa participação nas bênçãos do pacto da graça.
Antes da fundação do mundo, o Pai e o filho estabeleceram o
pacto da redenção. O Filho “se colocou no lugar do pecador e incumbiu-se de
fazer a expiação do pecado, suportando o castigo necessário, e de satisfazer as
exigências da lei em lugar de todo seu povo”. Baseado neste pacto, Deus
estabeleceu com o homem o pacto da graça. “Pode-se definir a aliança (pacto) da
graça como o acordo feito com base na graça, entre o Deus ofendido e o pecador
ofensor, porém eleito, no qual Deus promete a salvação mediante a fé em Cristo,
e o pecador a aceita confiantemente, prometendo uma vida de fé e obediências”.
A promessa principal do pacto da graça é que Deus será o nosso Deus e também da
nossa descendência. Esta promessa inclui bênçãos temporais e eternas. Através
dela Deus garante nos conduzir nesta vida e nos receber no céu, após a nossa
morte. E o batismo significa e sela, essas promessas. “De sorte que já não és
escravo, porém filho: e, sendo filho, também herdeiro de Deus”(Gl 4.7). O
batismo significa e sela a promessa de pertencermos ao Senhor.
Na cerimônia de recepção de membros, o celebrante costuma
dizer às pessoas que estão professando a fé: “A profissão de fé e as solenes
promessas que acabais de fazer diante de Deus e desta igreja, sendo sinceras,
importam em uma aliança entre vós e Deus, na qual Ele promete ser o vosso único
Deus, e prometeis pertencer-Lhe. No batismo que agora vai ser ministrado, Deus
vos dá um penhor desta santa aliança”. Nós pertencemos ao Senhor. “Vós, porém,
sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva
de Deus” (1Pe 2.9). E o batismo é selo da propriedade divina. O batismo é um
meio de graça.
A Confissão de Fé nos lembra que “a eficácia do batismo não
se limita ao momento em que é administrado”.
E o Catecismo Maior nos ensina que “o dever necessário, mas
muito negligenciado, de tirar proveito do nosso batismo, deve ser cumprido por
nós durante a nossa vida, especialmente no tempo da tentação e quando
assistimos à administração desse sacramento a outros”.
A forma do batismo não está claramente definida na Bíblia.
Homens piedosos, cultos e fiéis, examinando a Escritura têm concluído que o
modo correto de se ministrar o batismo é a aspersão. Outros, igualmente
piedosos, cultos e fiéis, têm concluído que a forma bíblica é a imersão. Vamos
examinar, a seguir, a interpretação dos imersionistas.
a.
Os imersionistas afirmam que a palavra batismo
significa imergir. Logo o batismo deve ser aplicado por imersão. A maneira mais
simples de se testar se duas palavras são sinônimas é substituir uma pela
outra. Se o sentido não se alterar, fica provado que as duas têm o mesmo
significado. Vamos aplicar este teste a um texto bíblico onde aparece o verbo
batiza: “Ora irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos sob
a nuvem, e todos passaram pelo mar tendo todos sido batizados, assim na nuvem,
como no mar, com respeito a Moisés” (1Co10.1,2). Substituindo batizar por
imergir fica assim: “...tendo sido todos imergidos assim na nuvem, como no mar,
...” Alterou o sentido? É claro. Os israelitas atravessaram o mar de pés
enxutos (Ex 14.15-22,29). Não foram imersos no mar, nem na nuvem. Concluímos
pois, que neste texto o verbo batizar não é sinônimo de imergir. O argumento
imersionista perde a sua força pois o seu pressuposto é que batizar significa
sempre imergir.
b.
Os imersionistas argumentam também que o verbo
batizar deriva do grego babto e baptizo, que significa imergir. Vamos
examinar dois textos onde aparecem estes verbos. O primeiro é Daniel 4.25:
“...e serás molhado do orvalho do céu”. Na versão grega do Antigo Testamento,
chamada Septuaginta, o verbo molhado é babto. É possível imergir alguém
no orvalho do céu? Claro que não é. Logo, aqui bapto não significa, em
hipótese nenhuma, imergir. O segundo texto é Lucas 11.38: “O fariseu, porém,
admirou-se ao ver que Jesus não se lavava primeiro antes de comer”. No texto
grego, lavava é o verbo baptizo. Os judeus se lavavam antes das
refeições. Mas, se lavavam como? Marcos registrou esse costume assim: “Os
fariseus e todos os judeus, observando a tradição dos anciões, não comem sem
lavar cuidadosamente as mãos; quando voltam da praça, não comem sem se
aspergirem”(Mc 7.3,4).Comparando estes dois textos, podemos afirmar que em
Lucas 11.38 o verbo baptizo significa aspergir e não imergir. Em alguns
textos bapto e baptizo significam imergir; em outros significam
molhar, tingir e aspergir.
c.
Os imersionistas afirmam também que o fato de
João Batista batizar no Rio Jordão significa que ele batizava por imersão. A
expressão bíblica “João batizava no Rio Jordão” apenas identifica a região onde
João batizava, sem ter nada a ver com o modo como João batizava. Isto fica
comprovado pelo registro de João 10.40: “Novamente se retirou para além do
Jordão, para o lugar onde João batizava no princípio; e ali permaneceu”.
d.
Argumentam também que se João batizava em Enom,
“porque ali havia muitas águas”, isto prova que ele batizava por imersão. Quanto
ao registro de que “João estava também batizando em Enom, perto de
Salim, porque havia ali muitas águas, e para lá concorria o povo e era
batizado” (Jo. 3.23), D. J. Wiseman, professor de Assiriologia na universidade
de Londres, afirma que Enom é, em árabe, Ain, que significa fonte.
Muitas águas aqui, portanto, dignifica muitas fontes de água. Enom era o
lugar apropriado para João batizar, já que multidões iam até ele, e essas
multidões precisavam de água para beber e para higiene pessoal. Os
imersionistas afirmam que Jesus foi batizado por imersão, porque o registro
bíblico afirma que, após ser batizado, Jesus saiu da água.
O fato de Jesus ter saído da água após o batismo não
significa que ele tenha sido batizado por imersão. Nem todas as vezes que uma
pessoa entra e sai da água materializa-se numa imersão. As vezes uma pessoa
entra e sai da água sem molhar nada mais além dos pés. No batismo do eunuco,
ele e Filipe desceram à água. Por isto os imersionistas afirmam que o eunuco foi
batizado por imersão.
No caso do eunuco, ele seguia pelo caminho. E este,
normalmente, fica num nível acima da água. Logo, para ir até onde havia água
ele teria que descer. Se descer à água significasse imersão, teríamos que
concluir que Filipe também foi imerso, pois o texto bíblico afirma que “ambos
desceram à água” (At 8.38). Paulo compara o batismo a um sepultamento. Logo,
concluem os imersionistas, o batismo deve ser feito por imersão. Quando Paulo
afirmou que fomos sepultados com Cristo na morte pelo batismo (Rm 6.4;Cl 2,12),
ele estava se referindo ao significado do batismo, e não ao modo de
ministra-lo. Nos mesmos capítulos, Paulo afirma também que fomos circuncidados
(Cl 2.11) e crucificados (R 6.6) com Cristo, prova de que ele está tratando da nossa
identificação com Cristo, na sua morte, e não da forma de se ministrar o
batismo.
Além do que já foi exposto, temos outras dificuldades para
aceitar o batismo por imersão. Por exemplo: João Batista batizava multidões (Mt
3,5,6), além de pregar. Será que ele dispunha de tempo e energia física para
imergir tanta gente? No dia de Petencoste foram batizadas quase três mil
pessoas em Jerusalém. Não havia rio na cidade. Apenas reservatórios de água
para uso da população. Seriam tais reservatórios suficientes para imergir três
mil pessoas? E se fossem, as autoridades deixariam os apóstolos imergir pessoas
em tais reservatórios? O carcereiro de Filipos foi batizado logo depois da meia
noite, depois de um terremoto que fendeu as paredes da prisão, provavelmente no
pátio da própria prisão, onde residia (At 16.23.33). É possível pensar em
imersão num caso como este? Uma pessoa doente ou muito idosa não dispõe de
condições físicas para ser batizada por imersão. Será que Jesus adotaria uma
forma de batismo que excluiria os doentes e idosos?
Embora a forma do batismo não esteja clara na Bíblia, cremos
que muitas evidências apontam para a aspersão, ou seja, para o derramamento de
água sobre a cabeça das pessoas que estão sendo batizadas. Vamos examinar
algumas destas evidências.
a.
O profeta Malaquias escreveu o seguinte: “Eis
que eu envio o meu mensageiro que preparará o caminho diante de mim”(Ml 3.1). E
Jesus afirmou que esta profecia se refere a João Batista (Mt 11.10). A mesma
profecia diz que o mensageiro “purificará os filhos de Levi” (Ml 3.3). Esta
purificação era feita aspergindo água sobre eles (Nm8.5-7). A linguagem da
profecia é simbólica. Mas a figura usada é a aspersão. Muitos sacerdotes,
filhos de Levi, foram batizados por João Batista. E o mais provável é que
tenham sido batizados por aspersão, conforme dá a entender a profecia de
Malaquias.
b.
O profeta Ezequiel, profetizando sobre a
restauração de Israel, disse: “Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis
purificados” (Ez 36.25). E o profeta Isaías, (quando profetizou que o SENHOR
derramaria o seu Espírito afirmou também que ele derramaria água “sobre o
sedento” (Is 44.3). Novamente trata-se de linguagem figurada. Mas a figura
usada é a aspersão. Isto nos leva a concluir que a aspersão de água é o modo
escolhido por Deus para marcar o seu povo. O batismo de João era, entre outras
coisas, a marca de uma nova era. Era o selo colocado sobre as pessoas que se
arrependiam de seus pecados. Logo, provavelmente era feito por aspersão.
c.
Jesus falou aos discípulos sobre o batismo com o
Espírito Santo, que eles recebiam, usando a mesma construção gramatical usada
para falar sobre o batismo com água. “João, na verdade batizou com água mas vós
sereis batizados com o Espírito Santo” (At 1.5). No dia de Petencoste eles
receberam este batismo: “Ao cumprir-se o dia de Petencoste, estavam todos
reunidos no mesmo lugar; ...Todos ficaram cheios do Espírito Santo” (At 2.1,4).
Pedro usou esta experiência ao defender-se por ter batizado Cornélio e seus
familiares. Ele disse: “Quando comecei a falar, caiu o Espírito Santo sobre
eles, como também sobre nós no princípio. Então me lembrei da palavra do
Senhor, como disse: João, na verdade, batizou com o Espírito Santo” (At
11.15,16). Observe que no batismo com o Espírito Santo, o Espírito caiu sobre
as pessoas. Já que a construção gramatical é a mesma, no batismo com água esta
deve cair sobre a pessoa que está sendo batizada.
d.
Ainda que ficasse provado que João Batista
batizava por imersão, que Jesus foi batizado por imersão e que os apóstolos
batizavam por imersão, poderíamos continuar batizando por aspersão, sem
desobedecer à Bíblia Sagrada. Pois no batismo a água é símbolo. Logo não
importa a quantidade. Pois é assim que procedemos na Ceia do Senhor. Usamos uma
pequena quantidade de pão e vinho, mas sabemos que Jesus usou quantidades
normais desses elementos. A ceia celebrada por Jesus era uma refeição. A que
celebramos hoje faz parte do culto. E nem por isto estamos desobedecendo ao Senhor.
Como a Bíblia não diz
explicitamente a forma como o batismo deve ser feito, praticamos aspersão, pois
ela é mais prática – pode ser praticada em qualquer lugar, em qualquer
circunstância e com qualquer pessoa, mesmo que o batizando seja um enfermo,
muito idoso ou paralítico. A aspersão não discrimina ninguém.
A pessoa que recebeu Jesus como Salvador e Senhor está
salva, quer tenha sido batizado ou não. Quem salva é Jesus, e não o batismo.
Mas quem recebe Jesus deve também receber o batismo. Jesus e os apóstolos
falaram do batismo como uma obrigação e não como uma opção. A nossa Confissão
de fé afirma que é “grande pecado desprezar ou negligenciar esta ordenança”.
A experiência tem mostrado que, assim como o sedento anseia
pela água, o verdadeiro convertido anseia pelo batismo.