quinta-feira, 18 de outubro de 2018

GUERRA E PAZ


LIVRO: O CRISTÃO E AS QUESTÕES ÉTICAS DA ATUALIDADE
Autor: Walter C. Kaiser jr
Capítulo 15: Guerra e paz
Texto: Romanos 13.1-7


Paz não significa ausência de guerra, mas restauração da justiça nos relacionamentos.
Mais pessoas perderam a vida em guerras no século 20 (que havia sido predito como século cristão, no inicio da década de 1900) do que em qualquer outro século da história. Na Primeira Guerra Mundial, morreram cerca de 39 milhões de pessoas (das quais, trinta milhões eram civis). Na Segunda Guerra Mundial, outros 51 milhões de pessoas (sendo 34 milhões civis) perderam a vida. Desde 1945, estima-se que, em outras 150 guerras de proporções diversas, em localidades variadas, mais 16 milhões de pessoas morreram em razão desses conflitos, como na guerra da coréia na década de 1950 e na do Vietnã nas décadas de 1960 e 1970. Ninguém pode negar que o conflito militar inflige terríveis sofrimentos e certamente é resultado de algum tipo de falha moral.
Os cristãos tem basicamente 3 posições principais como alternativas no que diz respeito à guerra e à intervenção militar.
1. O ativismo, que defende o apoio cristão a todos os esforços militares sempre que seu país declarar guerra. Como as Escrituras afirmam em Romanos 13.1-7 que devemos nos submeter aos lideres políticos que nos governam, presumimos que esses lideres tem mais acesso às informações do que nós; portanto, nesse contexto, confiamos no discernimento do governo e seguimos sua liderança.
2. O pacifismo, que defende que, para o cristão, nunca é correto participar de uma guerra, visto que, como discípulos de Cristo, precisamos viver como ele viveu – de uma forma não violenta. O caminho do mundo é o caminho da espada, mas o caminho da cruz é totalmente diferente. As guerras conduzidas no Antigo Testamento não servem de apoio para a maneira pela qual nós, cristãos, devemos agir, e também não devemos oferecer resistência a uma pessoa má (Mt 5.39), ao contrário, devemos amar nossos inimigos (Mt 5.44).
3. O seletivismo, que defende que os cristãos podem participar e lutar em algumas guerras, quando elas são fundadas em causas moralmente defensáveis descritas nas sete diretrizes de uma “guerra justa”.


O ENSINAMENTO DO ANTIGO TESTAMENTO SOBRE A GUERRA
Como as escrituras são a fonte decisiva para todas as questões éticas, é apropriado que busquemos nela orientação em assuntos de ordem moral, como esse diante de nós. Não seria justo separar o Novo Testamento do Antigo ou deixarmos este de lado ao analisarmos o tema da guerra, pois ambos afirmam ser Palavra de Deus, exibindo uma unidade consistente e harmoniosa, a menos que o texto indique a exceção. O argumento mais evidente deve ser o de que, no Antigo Testamento, deus orientava os israelitas a guerrear contra nações especificas que haviam completado a “medida de sua iniqüidade” uma expressão diferente, mas paralela, aparece em Gn 15.16: “o pecado dos amorreus ainda não atingiu a medida completa”) conforme os padrões divinos e, portanto, teriam de ser punidas e removidas da terra que Deus estava dando a Israel. O próprio Yahweh era ocasionalmente descrito como um “Homem de Guerra” (Ex 15.3-4).
O Antigo Testamento claramente ensina que “quem derramar sangue do homem, pelo homem seu sangue será derramado” (Gn 9.6). No entanto, Exodo 20.13 também ensina: “não matarás”. A interpretação de Êxodo 20.13 à luz de Gênesis 9.6 é suficiente para mostrar que nem toda morte causada pelos homens constitui uma violação do sexto mandamento. É possível que isso também influenciasse determinadas ações na condução da guerra.

UMA GUERRA DE YAHWEH: DEUTERNÔMIO 20.1-20
Na verdade, em várias passagens, o Antigo Testamento instrui Israel não somente a declarar guerra, mas também a conquistar a terra de Canaã, ou a lutar pra defender a terra. O capítulo inteiro de Deuteronômio 20 é dedicado a instruções específicas a respeito da guerra. Observe-se, no entanto, que estas instruções não estão baseadas nas opiniões de determinados grupos ou até mesmo de certos redatores das Escrituras Sagradas, elas são as regras de Deus para conduzir uma guerra.
O texto de Deuteronômio 20.1-20 é considerado um dos longos sermões proferidos por Moisés em sua época. A tentativa de atribuir este texto a um período posterior da monarquia ou mais tarde, por causa das nações estrangeiras mencionadas em Deuteronômio 20, 21 e 23, como alegou T. Raymond Hobbs, é contestada pela semelhança entre os tratados de suserania do segundo milênio e a estrutura do livro de Deuteronômio. Esta obra é bem mais datada da segunda metade do segundo milênio do que do primeiro milênio, como Hobbs gostaria. Conforma Chris Whrigth também respondeu:
“Parece provável que a idealização precedeu as guerras de Israel na Terra Prometida (i.e., como uma declaração prévia do que deveria ter ocorrido, mas não aconteceu), em vez de ser uma pós idealização do século 7 do que deveria ter ocorrido, mas que todos sabiam que não aconteceu. É difícil enxergar qual sentido possível das distinções dos versículos 10-18 nos séculos depois do estabelecimento efetivo de Israel na terra, ou qual seria o propósito deste capítulo (Dt 20) em relação a uma reforma no século 7.”

Embora os textos de Deuteronômio 20.10-14, 23.9-14 e 24.5 também tratem da questão da guerra no Antigo Testamento, Deuteronômio 20.1-20 apresenta a única passagem extensa de ensinamento sobre o tema da Antiga Aliança. Este capítulo inteiro está inserido na presente parte do livro porque está associado com o assunto do capítulo 19 sobre o homicídio.  Cada um desses capítulos, portanto, é uma extensão do sexto mandamento, e eles explicam tanto a legitimidade quanto a ilegitimidade de tirar a vida humana.
A estrutura de Deuteronômio 20 é sintaticamente marcada por uma série de frases condicionais que começam com “quando”, acompanhadas por orações cujos verbos estão no imperfeito nos versículos 1, 10 e 19. O esboço dessa estrutura sintática parece ser o seguinte:
Esboço:
1. A natureza das guerras de Yahweh (1-9)
a. Uma guerra de Yahweh (1)
b. Preparativos para a guerra (2-4)
c. Reunião das tropas (5-8)
d. Designação de lideres (9)
2. A singularidade das guerras de Yahweh (10-18)
a. Condução da guerra (10-15)
b. Princípios que governam as guerras de Yahweh (16-18)
3. A preocupação com o meio ambiente (19-20)
a. A restrição ecológica (19)
b. A preparação de um cerco (20)

As regras de guerra para Israel são muito diferentes das de seus vizinhos, especialmente em um aspecto importante: Israel nunca recebeu ordem ou permissão de expandir sua terra ou territórios por meio da conquista das nações ao seu redor. Todas as motivações imperialistas para a guerra deveriam ser sumariamente rejeitadas. A razão era clara: não havia necessidade de aumentar a grandeza de Israel da perspectiva de aquisições, riqueza ou aparato militar. Sua riqueza não estava nas posses, poder, força militar e tecnologia; suas guerras eram vencidas e perdidas pela presença e poder do Senhor. É por isso que Israel não precisava confiar em suas armas, mas somente no Senhor. É o que lemos no salmo 33.16-19 e 118.8-9:
“Nenhum rei é salvo pelo tamanho do seu exercito; 
nenhum guerreiro escapa por sua grande força. 
O cavalo é vã esperança de vitória;
apesar de sua grande força, ele é incapaz de salvar.
Mas os olhos do Senhor estão sobre aqueles que o temem,
aqueles que firmam a esperança em seu amor leal,
para livrá-los da morte
e garantir-lhes vida, mesmo em tempos de fome.

É melhor buscar refugio no Senhor
do que confiar nos homens.
É melhor buscar refugio no Senhor
do que confiar em príncipes.”

Tendo em vista alguns dos usos contemporâneos da expressão “guerra santa”, é melhor abandoná-la, pois as guerras nunca foram chamadas assim nas Escrituras, e usar a expressão bíblica “guerra de Yahweh”. Portanto, os versículos 1-4 apresentam a perspectiva de que as guerras de Israel, combatidas em obediencia à ordem de Yahweh, seriam as guerras do próprio Yahweh. Essa é a premissa básica do capítulo 20 de Deuteronômio.
Surpreendentemente, em vez de esse capítulo exibir um espírito militarista, ele, na verdade, abacá sendo antimilitarista, pois ordena a redução do exercito e a liberação dos que provavelmente seriam seus homens mais jovens e mais bem preparados. Três dispensas foram logo concedidas:
a. Os que edificaram uma casa nova, mas ainda não a haviam dedicado;
b. Os que plantaram uma vinha, mas ainda não a haviam desfrutado e
c. Aos que estavam comprometidos a se casar, mas ainda não haviam se casado.
Todos eles deveriam ser liberados do serviço militar, alem de todos os que psicologicamente temiam ir para a guerra. Parte do motivo era que, se essa guerra deveria ser fonte de benção e dádiva da terra, a morte de um homem nas condições mencionadas nas três dispensas pareceria fruto de maldição e repercutiria de forma negativa, já que o guerreiro caído na teria tempo de desfrutas do que estava prestes a se concretizar na sua vida.
O capítulo 20 de Deuteronômio segue distinguindo as cidades próximas das mais afastadas (15,16). A razão para a matança de todas as nações cananeias era a mesma mencionada em Deuteronômio 7.1-6,25 e 26 - tratava-se de um juízo à sua maldade acumulada (i.e. o enchimento da medida de iniqüidade) e à ameaça de sincretismo que representavam para Israel (Dt 20.18). A natureza do texto é um sermão, não uma instrução militar. A idolatria não deveria se infiltrar na terra, porque Israel precisava ser totalmente dedicado ao Senhor.
Essas regras eram ao mesmo tempo humanas e ecologicamente sensíveis. Israel deveria propor paz às cidades que estavam mais longe (10,11). Caso essas cidades aceitassem, deveriam receber tratamento cordato e ser deixadas na própria terra. As árvores frutíferas não poderiam ser destruídas ou cortadas na construção de cercos, como o fizeram, por exemplo, os assírios (19,20). As mulheres cativas também deveriam ser tratadas com benevolência, pois, se um israelita se casasse com uma delas, jamais poderia vendê-la ou tratá-la como escrava, caso ela não mais lhe agradasse.
Chris Wright apresenta um bom resumo dessa passagem:
Quando decidimos, então, observar alem da matança dos cananeus, como uma pedra de tropeço moral, outros aspectos das regras de guerra de Deuteronômio, é difícil não nos impressionarmos. Deuteronômio defende dispensas humanas do combate; exige negociação prévia; dá preferência a não violência; impõe limites no tratamento das nações subjugadas; permite apenas a execução de combatentes do sexo masculino; exige tratamento humano e digno de mulheres cativas; insiste na restrição ecológica. Como no caso da escravidão, podemos detectar algo que parece minar a própria guerra, ainda que de maneira velada.”

A TEORIA DA GUERRA JUSTA
Cícero (106-46 a.C.), em sua obra De officiis, procurou elaborar uma justificativa para a guerra ao falar de “um motivo justo para ir à guerra” (I,38). Mas foi Agostinho de Hipona que desenvolveu a teoria de Cícero em sua resposta a Fausto (XXII, 74), em suas carta 138 e carta 189.
A “guerra justa” (jus ad bellum, regra [que rege o momento de] ir à guerra”, i.e., as condições para se declarar guerra) e a jus in bello (regra [de conduta] na guerra, i.e., diretrizes para serem seguidas quando se está em guerra) produziram uma doutrina cujas raízes remontam a Agostinho (354-430), que a desenvolveu com implicação em romano 13.1-7. Nem todas as guerras eram moralmente legítimas, argumentava Agostinho. Um critério de sete princípios foi desenvolvido para avaliação do inicio (cinco regras da teoria da guerra justa, jus ad bellum) e do andamento ([jus in bello] as duas ultimas dessas sete regras) de uma guerra.
São os seguintes:
1. Uma causa justa. Toda forma de agressão deve ser completamente rejeitada. Uma guerra sem motivos não é razão para que uma nação lute com outra. Só podemos participar se tivermos uma causa justa ou uma razão sustentável.
2. Uma intenção justa. As nações não podem ir à guerra por vingança ou simplesmente para conquistar o território de outra nação; devem fazê-lo para assegurar a paz de todas as partes envolvidas.
3. Como último recurso.  Somente depois de uma nação propor um acordo de paz e utilizado a diplomacia e todas as formas de pressão econômica para evitar o conflito, ela poderá ir à guerra como ultimo recurso.
4. Declaração formal. Deve haver uma declaração formal de guerra para o início das batalhas.
5. Objetivos limitados. A destruição completa de outra nação ou algo semelhante é um objetivo inadequado. A guerra deve ser travada para garantir a paz como resultado e quando for o único caminho para o fim da violência.
6. Meios proporcionais. Os tipos de armas e a força militar devem limitar-se ao necessário para reprimir a agressão e assegurar uma paz justa.
7. Imunidade de não combatentes. As operações militares devem evitar cuidadosamente o envolvimento de pessoas que não estejam participando do conflito. Somente as forças governamentais e seus agentes podem ser alvo da ação.

Tomás de Aquino também argumentou em favor de uma guerra justa buscando apoio no Antigo Testamento. Veja sua obra suma teológica I-II, Q 105, artigo 3.
Os cristãos pacifistas apresentam duas principais objeções contra a teoria da guerra justa: 1. Nunca é correto ir à guerra, deveríamos, em vez disso, oferecer a outra face (Mt 5,39); 2. Jesus disse a Pedro para guardar a espada, uma vez que o reino de Deus não é deste mundo e seu avanço não ocorre por meio da espada (Mt 26.52,53). No entanto, jesus estava se dirigindo a indivíduos pessoalmente atormentados nesses casos, não estabelecendo modos de agir para nações ou de grupos de pessoas.
 Mais recentemente, outro0s teólogos têm defendido que a teoria da guerra justa se aplica somente a nações e não a terroristas. Mas essa objeção não parece correta, porque o conceito de guerra justa é anterior ao conceito dos modernos estados-nações, em que grupos étnicos, sociais e religiosos são objeto de ataque. A principal passagem sobre o tema, sem dúvida é Romanos 13.1-7, que examinaremos agora, observando o ensinamento ético sobre a obediência política.

A SUBMISSÃO AO GOVERNO É EXIGIDA POR DEUS
Como os cristãos se tornaram membros de um reino que não é deste mundo, poderíamos pensar que foram dispensados ou que talvez eles mesmos se isentariam de todas as obrigações de obediência aos governos deste século, especialmente quando o que está em jogo é o serviço ativo nas forças armadas, visto que, de todo modo, as autoridades humanas geralmente não são cristãs. Mas o ensinamento deste capítulo de Romanos é dirigido a todos, o que inclui os cristãos.
Além disso o Apóstolo Paulo não restringe esta exigência de obediência somente a uma ou duas formas de governo, ele não faz exceções, sejam democracias, sejam monarquias, sejam repúblicas, sejam uma mistura de todas as formas anteriores, além de outras. Toda forma de governo deve ser obedecida por causa da obediência a Deus. Aliás, Paulo escreve isso durante um dos períodos de maior opressão dos cristãos, infligida pelos imperadores romanos.

Texto: Romanos 13.1-7
Título: “A Submissão ao Governo É Exigida Por Deus
Ponto Central: “todos devem sujeitar-se às autoridades governamentais, pois não há autoridade que não venha de Deus e que não tenha sido estabelecida por ele.”
Palavras-Chave da exposição: Razões
Pergunta: Quais são as razões para a submissão às autoridades governamentais?
Esboço:
I. Todos nós devemos nos submeter ao governo humano (13.1-5)
a. Porque o governo humano é ordenado por Deus (v.1)
b. Porque a rebelião contra o governo é a rebelião contra Deus (v. 2a)
c. Porque seremos punidos se resistirmos (v.2b)
d. Porque o governo é uma forma de repressão do mal (v. 3a)
e. Porque o governo promove o nosso bem (v. 3b,4a)
f. Porque os governantes recebem autoridade para punir a desobediência (v.4b)
g. Porque a obediência ao governo se deve por motivo de consciência (v.5)
II. Todos nós devemos pagar impostos aos nossos governantes (13.6,7)
a. Parte de nossa submissão se manifesta no pagamento de impostos (v.6a)
b. Parte do trabalho do governo é cobrar impostos (v.6b)
c. Parte de nosso pagamento de impostos é uma obrigação espiritual (v.7)

I. TODOS NÓS DEVEMOS NOS SUBMETER AO GOVERNO HUMANO (13.1-5)
“Porque o governo humano é ordenado por Deus” (v.1). em primeiro lugar, Paulo apresenta nossa obrigação e, então,  explica a razão dela. Todos os governos estão incluídos nessa referência a “autoridades governamentais”, não somente os imperadores romanos. Não importa quais tenham sido os meios usados por esses governantes para chegar ao poder, cada um deles, sem exceção, está onde está porque assim Deus ordenou. O próprio jesus reconheceu que os sucessores de Cesar e Jeroboão haviam sido designados por Deus às suas posições de liderança. Até tiranos que pensam ter conquistado o poder pelas próprias mãos só alcançaram esse poder depois de Deus ter-lhes concedido. Portanto, cada governante é um ministro/servo de Deus (v.4). Assim, tanto a forma de governo civil quanto os próprios governantes são ordenados por Deus.
A palavra para “sujeitar-se” em grego é “hypotasso”, um termo militar usado geralmente para soldados que deveriam se posicionar hierarquicamente sob ou sujeitos a autoridade de um oficial superior. O verbo é um imperativo passivo, indicando que o princípio é uma ordem, não uma opção. Portanto, os cristãos devem estar dispostos a se submeter a todas as autoridades governamentais em todos os países onde são cidadãos residentes.
Alguns, de fato, são governantes perversos, mas Deus pode usa-los para punir nações como também para servir aos seus propósitos.
“Porque a rebelião contra o governo é rebelião contra Deus” (v.2a). a resistência a um governo implica resistência a Deus, exceto em uma área importante: quando o governo exige de nós qualquer coisa que seja contrária a lei divina. Quando Pedro e João foram instruídos pelas autoridades que deveriam parar de pregar, os dois apóstolos responderam: “julguem os senhores mesmos se é justo diante de Deus obedecer aos senhores, e não a Deus” (At4.19). naturalmente, Pedro e João tinham de estar dispostos a enfrentar as punições do governo se viessem a ser pegos pregando novamente.
“porque seremos punidos se resistirmos” (v.2b). Em números 16.3,13, cerca de 250 pessoas descontentes se reuniram para protestar contra a administração de Moisés e Arão. A resposta do Senhor a esta oposição inadequada foi abrir a terra para engolir os descontentes e enviar fogo para consumir os rebeldes. Em vez de o povo reagir de forma sensata à tragédia. No dia seguinte, rebelou-se novamente contra a liderança. Desta vez, 14700 morreram por causa de uma praga. O número de mortos teria sido maior se Arão não tivesse feito expiação pelo povo (Nm 16.49).é uma questão grave opor-se às pessoas designadas por Deus para governar se não houver uma ordem superior que venha de Deus e que seja diretamente contrária ao que essas autoridades exigem.
“Porque o governo é uma forma de repressão do mal” (v.3a). Com essa declaração não se pretende qualificar ou oferecer motivos alternativos para nossa obediência, pois esses motivos já foram mencionados no versículo 1. Em vez disso ela indica a razão pela qual Deus designou governos civis e desse modo nos oferece um motivo adicional para cumprirmos o que já nos foi ordenado. O bem e o mal nesse caso, não se refere ao cristianismo, mas à sociedade em geral. Até os piores governos podem ser uma fonte de benção, mesmo que não o sejam em todas as situações.
“Porque o governo promove o nosso bem” (v.3b,4a). É legitimo que cristãos e todas as outras pessoas busquem nos governos a proteção da vida e da propriedade, bem como o exercício da justiça. Paulo se beneficiou desses aspectos quando apelou para Cesar por justiça (At 25.11). ele também utilizou os recursos do governo quando a multidão foi instigada por Demétrio, o ourives, a se rebelar contra a pregação de Paulo. O escrivão da cidade disse que os tribunais estavam prontos para ouvir todas as queixas contra Paulo, mas que o tumulto não seria tolerado (At 19.38,39).
“Porque os governantes recebem autoridade para punir a desobediência” (v.4b). A espada, que é a arma da morte, é dada ao governo para executar a punição merecida por todos que praticam o mal. Esta é simplesmente uma implicação da instituição da pena de morte dada por Deus ao estado em Gênesis 9.6. é verdade que Pedro havia sido advertido pelo Senhor a guardar sua espada (Mt 26.52), porque se viesse a tirar uma vida, ele seria responsabilizado pelo assassinato, o que resultaria em sua execução pelo estado. Da mesma forma, Paulo reconheceu que se pudessem acusa-lo de ter cometido algum crime digno de morte, ele também mereceria a morte (At 25.11). desse modo, o apóstolo reconheceu que a pena de morte era justificada em algumas circunstancias. Portanto, Deus deu às nações, aos Estados e as forças policiais de todo o mundo a autoridade de tirar a vida, se for necessário, mas todas as ações do governo também são passíveis de análise pelo Juiz Supremo, o nosso Senhor.
“Porque a obediência ao governo se deve por motivo de consciência” (v. 5). Os cristãos precisam reconhecer, com naturalidade, que a sujeição aos governantes da terra, deve ocorrer não por medo da ira do governo, mas por causa da nossa consciência perante Deus. Temos que merecer o louvor do que fazem o que é correto. Quando obedecemos dessa maneira, calamos “a ignorância dos insensatos” (1Pe 2.13-15, NASB).
Essa pode ser uma tarefa difícil para os cristãos diante de alguns tiranos, mas não é difícil para Deus, que governa sobre os governantes. Robert Haldane disse: “quando Deus escolhe derrubar um império de tiranos, não lhe faltam instrumentos. Ele não é obrigado a empregar os herdeiros da glória nessas cenas de sangue: ele [muitas vezes] usa os maus para destruir os maus”.

II. TODOS NÓS DEVEMOS PAGAR IMPOSTOS AOS NOSSOS GOVERNOS (V.6,7)
“Parte de nossa submissão se manifesta no pagamento e impostos” (v.6a). Essa não é uma ordem para que nos alegremos em pagar nossos impostos, mas temos de pagá-los! A fraude fiscal é enorme, alcançando quase cem bilhões de dólares por ano nos Estados Unidos, de acordo com as recentes estimativas da Receita Federal. É realmente um escândalo!
Nem Jesus nem Paulo mencionaram qualquer exceção. A razão pela qual os impostos devem ser pagos está em todas as coisas que são feitas em nosso favor, como é observado nos versículos anteriores. Os impostos eram considerados dívidas.
“Parte do trabalho do governo é cobrar impostos” (v6b). Pela terceira vez neste contexto, somos lembrados que esses governos são servos/ministros de Deus. É para o “governo de tempo integral” deles, como ministros de Deus, que os impostos devem ser pagos.
“Parte de nosso pagamento de impostos é uma obrigação espiritual” (v.7). Haldane novamente faz uma observação importante:
“Aqui também deve ser ressaltado especificamente que [Paulo] atribui aos impostos e a alfândega o nome de “obrigações” ou dívidas. Um imposto é uma divida no sentido verdadeiro da palavra [...]. o texto ensina explicitamente que os impostos, de acordo com a lei de Deus, estão em pé de igualdade com as dívidas privadas, portanto, todo homem tem obrigação de quitar [...]. os cristãos tem muitas razões para serem gratos por estarem livres, pela autoridade de Deus, de toda responsabilidade em relação a aplicação de cada imposto e por esta responsabilidade repousar completamente sobre o governo. Se fosse diferente, viveriam constantemente perplexos em relação ao assunto, e praticamente em todos os casos seriam incapazes de determinar se sua obrigação deveria ser pagar ou reter o pagamento. Assim, a todo momento estariam expostos a uma situação de oposição aos governantes, o que tornaria praticamente impossível para eles viver num país pagão ou muçulmano.”

Essa é uma distinção importante. Se nossos impostos não fossem equivalentes ao pagamento por serviços prestados, isso causaria conflitos diretos quando decidíssemos reter o pagamento. Seria como um carpinteiro que viesse à nossa casa e nós lhe perguntássemos primeiro quanto ele cobraria por hora. Ao responder que seria em torno de R$60,00 por hora, perguntaríamos a ele como gastaria o dinheiro recebido, ele vai se embebedar e farrear com mulheres promíscuas? Depois de recuar por um instante, o carpinteiro admitiria que faz essas coisas, mas que isso não era da nossa conta. Se nós então revidássemos e disséssemos: “É sim. Como cristãos não podemos apoiar esse tipo de atividade. Como você disse que 20% dos teus rendimentos são gastos assim, somente poderemos pagar-lhe R$48,00 por hora, pois não podemos apoiar as coisas pecaminosas que você faz.”
Essa situação, no entanto, é impensável. Pagamos pelos serviços prestados e não estamos sob nenhuma obrigação moral de pagar ao carpinteiro segundo nossos valores ou ética, ou a falta deles. O esmo princípio se aplica aos impostos devidos a todo governo (o que inclui democracias e repúblicas) por seus cidadãos, porque eles são tão obrigatórios como as dívidas. Portanto, as pessoas que deduziam uma parte de seus impostos em protesto contra a guerra do Vietnã estavam erradas, porque os impostos são “obrigações” ou “dívidas” e não estão vinculados às exigências  éticas do pagador de impostos em relação a como esse dinheiro será gasto pelo governo.
A paz vem de Deus, pois como Salomão ensinou: “quando os caminhos de um homem são agradáveis ao Senhor, ele faz com que até seus inimigos vivam em paz com ele” (Pv 16.7). O grande perigo que os falsos profetas representam é que eles dizem “paz, paz” quando não há paz (Jr 6.14; 8.11,15; 14.13; 23.17; 28.9; Ez 13.10-16). E a razão pela qual não há paz na terra é que homens e mulheres não são corretos diante de Deus (Mq 3.5). no entanto, a pessoa (ou as pessoas) que encontra sabedoria também anda nas veredas de shalom (Pv 3.13-17) – todas as tuas veredas [da sabedoria] são da paz”.

CONCLUSÕES
Embora a guerra seja uma obrigação extremamente desagradável a ser cumprida por um governo de tempos em tempos, as regras para uma “guerra justa” precisam ser sempre aplicadas de forma completa. Ainda que os cristãos discordem quanto à obrigação de servir pessoalmente ao governo em alguma guerra justa, o ensinamento de Romanos 13.1-7 e de Deuteronômio 20 parece não dar margem a essa opção. Os cristãos não podem reter ou se recusar pagar seus impostos, porque os impostos são dívidas e não implicam qualquer outra decisão moral nossa que seja distinta do pagamento a um trabalhador pelos serviços prestados em nossa casa.