sexta-feira, 26 de abril de 2013

Jesus vai a igreja...




Foi um encontro inusitado. Jesus estava passeando pelas ruas de Brasília, passou pela rodoviária do Plano, aquela multidão, ninguém o reconheceu. Viu um jovem a passos largos, bíblia embaixo do braço, se aproximou:

- Olá rapaz! Jesus aborda o jovem que apressa ainda mais o passo.

- Olá moço. Desculpe, estou com pressa. O jovem demonstrou desgosto pela interrupção do estranho.

- Tudo bem, eu que me desculpo pela interrupção. Jesus conhecia os seus pensamentos. Você está indo a algum lugar especial?

- Estou indo para a igreja!

- Indo à igreja?

- É! Frequento a Igreja Pentecostal dos Milagres de Jesus... Pô, eu estou com pressa, o culto já começou, dá para dar licença. O jovem quase começa a correr, tentando se esquivar daquela situação desagradável com o estranho. Alguém que aborda o outro na rua, não deve ter boas intenções.

- Igreja Pente... (imagine a cara de Jesus nesse momento). Posso ir com você?
- Ãããã... Vamos, não tem problema. Mas ai se alguém perguntar você fala que frequenta a minha célula.
- ...

Já na entrada do templo ambos são recebidos por um diácono que prontamente indica um local com cadeiras vazias.

- Quem é? Jesus pergunta apontando o diácono com a cabeça.

- É o Diácono Manoel.

- Ahhhh. Ele que cuida dos pobres e zela para que na igreja não tenha nenhum necessitado?

- Hein???? O Manoel? Ele é diácono, não a Madre Tereza. Fica quieto senão ele vem aqui. Pô, nunca veio em uma igreja não? Senta ai...

- Na verdade ir a igreja é um conceito novo para mim, sempre preferei fazer parte do Corpo. Mas e você, como anda sua vida? O que...

- Psssssiiiuuu. O jovem interrompe bruscamente a conversa. Fica quieto ai! O pastor tá pregando lá, tá vendo não?

- Mas, aqui não é a igreja? O local onde se reúnem os filhos de Deus? Onde a família do Pai celestial se junta em um só coração, compartilham suas vidas necessidades, se ajudam mutuamente?

- Cara, de que planeta você veio hein??? Aqui é igreja, tá viajando? A gente vem, escuta a palavra, dá a oferta e vai embora. O jovem acha graça daquele estranho, com idéia totalmente novas e desconhecidas.

- Mas e quando vocês conversam?

- No fim do culto ué! Caaara, vou acabar com problemas por causa dessa conversa. Sou aspirante e o Manoel tá me filmando lá da porta.

- Então quando acaba o culto é que a igreja se relaciona? O culto não é o momento no qual o meu ... o Corpo de Cristo manifesta a graça do Espirito? Um tem salmo, outro ensino, outro revelação... e todos falam para edificação mútua?

- Vééééiiii. De onde você tira essas idéias malucas? Para você falar algo tem que ter 12 discípulos, ai se candidata a aspirante. Quando for promovido a oficial pode falar na célula. Meu, pelo menos fala que é da minha célula viu?? Você já me queimou mesmo com essa falação toda. Se ficar de boa eu te levo para conhecer meu líder, aí você fala essas paradas com ele.

- Então, na célula vocês compartilham suas necessidades, dons e graça do Espírito?

- Não rapá, a célula é para ganhar mais pessoas para Jesus!!!!

- Ganhar... para Jesus? E depois, o que fazem com quem vocês dizem que ganharam?

- A gente põe eles para abrir novas células, lógico!

- Entendo, foi bom falar contigo. Jesus se levanta no meio da palavra e estende a mão ao jovem.

- Ué não vai assistir o culto?

- Não, obrigado, não sou muito de assistir... vou lá fora cultuar.

O jovem fica triste, pois Jesus saiu antes do apelo e ele viu que perdeu a oportunidade de levar mais um para sua célula. Após o término do culto, a caminho da rodoviária do Plano ele vê Jesus, sentado, cercado de pessoas de má indole, conversando alegremente. Não consegue se segurar:

- Owwww, você não disse que ia sair da igreja para cultuar??? O que está fazendo então cercado desses mundanos pecadores????

Não leve essa história herética a sério. Todos nós sabemos que para Jesus o que fazemos não é novidade!

Eu Sou




João 8.57-59

57 Disseram-lhe os judeus: “Você ainda não tem cinqüenta anos, e viu Abraão?”
58 Respondeu Jesus: “Eu lhes afirmo que antes de Abraão nascer, Eu Sou!” 59 Então eles apanharam pedras para apedrejá-lo, mas Jesus escondeu-se e saiu do templo.
As pessoas vivem baseadas em valores que elas entendem ser maiores ou melhores. A gente se deixa levar por idéias em que acreditamos, e se não cuidamos com o que ouvimos levamos uma vida ordinária e abaixo do que deveria ser, muita gente tem vivido assim.
Criamos heróis, pensamos em pessoas famosas como sendo exemplos a serem seguidos, mesmo que sejam maus exemplos. Recentemente contei a um fã do Matanza que Jimmy London não bebe, ele trabalha muito e não dá tempo. É interessante ver a reação da pessoa, o herói que ela imaginava não era alguém certo, que trabalha, que paga as contas e que é responsável. Ele esperava um estilo de vida como se ouve nas músicas da banda, alguém que bebe, fuma, briga, etc. em uma entrevista, o Gigante Holandês disse que não vai viver como os outros querem.
As pessoas famosas estão sempre se defendendo porque precisam passar uma boa impressão, precisam ser exemplo, são os heróis modernos. Muita gente ganha dinheiro explorando a vida de pessoas famosas exatamente por isso.
Jesus era uma espécie de astro para as pessoas que o seguiam, mas ele não fazia nada por causa do que os outros iriam pensar, ele agia dentro do que ele acreditava ser certo, ensinava as pessoas a partir desta perspectiva.
Ele também enfrentou muitas situações em que sua autoridade foi questionada e conseqüentemente ele se via dentro de uma situação difícil. O mais interessante é a sabedoria com a qual ele se saía em cada uma delas.
Os fariseus o questionaram sobre sua autoridade em muitas ocasiões, Jesus se defende em uma ocasião com uma resposta muito simples e que expressa muito do que ele espera de nós também. A expressão que ele usa é: EU SOU!
Interessante que é exatamente isso que ele sempre mostrou a seus seguidores, Jesus não veio na terra para que víssemos o que ele faz ou o que ele sabe a respeito das coisas, ele não estava interessado em mostrara alguma habilidade especial (mesmo possuindo toda habilidade possível, já que ele é Deus).
O que se vê hoje é que as pessoas querem mostrar do que são capazes, muitos recordes são quebrados todos os anos porque alguém sempre está fazendo uma  façanha que ninguém fez. Muitas pessoas morrem tentando fazer façanhas também, muitos morrem tentando quebrar o próprio Record (particularmente acho isso uma idiotice).
Voltando a Jesus, sua resposta é o que Jesus veio fazer aqui, a despeito de sua vinda e encarnação a sua intenção foi mostrar quem ele é, mostrar o ser de Deus. É isso também que Jesus espera de nós, antes de fazer grandes coisas, precisamos ser cristãos, ser como ele foi, deixar que nossas atitudes brotem a partir de quem somos, não o contrário, “Eu Sou” expressa a intenção de Deus em formar um grupo de 12 discípulos que estivessem com ele.
Basta notar seu chamado a Pedro (Sigam-me, e eu os farei pescadores de homens), Jesus o chama não para pescar homens, mas Jesus o chama para torná-lo em um pescador. Jesus espera que façamos, disso não tenho duvidas, mas ele espera antes que sejamos.
Que Jesus nos abençoe que valorizemos antes o ser do que o fazer.

Os Outros



 

João 8.52-56

52 Diante disso, os judeus exclamaram: “Agora sabemos que você está endemoninhado! Abraão morreu, bem como os profetas, mas você diz que se alguém obedecer à sua palavra, nunca experimentará a morte. 53 Você é maior do que o nosso pai Abraão? Ele morreu, bem como os profetas. Quem você pensa que é?”
54 Respondeu Jesus: “Se glorifico a mim mesmo, a minha glória nada significa. Meu Pai, que vocês dizem ser o seu Deus, é quem me glorifica. 55 Vocês não o conhecem, mas eu o conheço. Se eu dissesse que não o conheço, seria mentiroso como vocês, mas eu de fato o conheço e obedeço à sua palavra. 56 Abraão, pai de vocês, regozijou-se porque veria o meu dia; ele o viu e alegrou-se”.
Jesus está sempre nos chamando a andar com ele, este chamado não é pra ter riquezas ou qualquer das coisas dessa vida que temos aqui, tanto que a vida eterna não deve ser confundida com a imortalidade física.
Jesus diz em João 8.51 “se alguém obedecer à minha palavra, jamais verá a morte”
Ele não estava dizendo que quem crer nele não vai morrer no sentido físico, seu convite não é para se tornar um “highlander”, quem crê em Jesus não fica imune a morte, mas ultrapassa a vida.
Difícil compreender e nem tão fácil de aceitar, mas não há outro modo de entender isso a não ser andar com Jesus e perguntar a ele. Sua afirmação é também um convite à nova vida.
Para um convite só há duas reações possíveis, aceitar ou não aceitar, é incrível como há pessoas que quando vê algo que não entende e logicamente não concorda (difícil concordar com algo que não entendemos), bate de frente ao invés de questionar e buscar entender melhor, ao receber o convite feito por Jesus, os fariseus geralmente têm esse tipo de reação.
A mentalidade farisaica está muito presente nos dias atuais (Você é maior do que o nosso pai Abraão?), são pessoas que não entendem as coisas e não buscam entender, dão lugar a discórdia, preferem satisfação própria em coisas que dão aparência de santidade.
Pessoas que aderem a esse tipo de religiosidade não conseguem argumentos para discutir algum assunto, sendo assim fazem todo tipo de acusação (Agora sabemos que você está endemoninhado!). É interessante porque Jesus não exclui tais pessoas do seu chamado (venham a mim, todos...), ele direciona suas palavras a todas as pessoas, a necessidade de salvação não é diferente para ninguém.
Jesus é diferente de nós em muitas coisas, ele entende de forma bem prática o conceito de viver para a glória de Deus (Se glorifico a mim mesmo, a minha glória nada significa), e é precisamente por causa disso que a glória de Deus brilha em Jesus (glória como do Unigênito vindo do Pai).
Ele não somente faz a vontade de Deus, mas conhece a Deus. Me pergunto muitas vezes se Jesus andaria comigo, se ele teria prazer em minha companhia, olho ao redor e penso nisso também, você já pensou nisso? Será que Jesus te chamaria para andar com ele?
Interessante notar que Jesus chamou doze pessoas que não tinham importância na sociedade de seu tempo, quem ele chamaria hoje? Algum filho de um grande pregador? Jesus chamaria algum grande pregador de nossa época?
Estamos agindo e deixando em nosso rastro marcas boas? O que temos feito de nossa vida para que tenhamos notoriedade para Deus? Temos trabalhado por qual recompensa?
A vida eterna permanece como um convite feito por Jesus, nossa reação precisa ser como a dos grandes homens do passado (Abraão, pai de vocês, regozijou-se porque veria o meu dia; ele o viu e alegrou-se). Muitos tem coragem para sair na rua com uma camiseta com estampa de uma banda que gosta - falo por experiência própria – mas temos coragem de aceitar e levar adiante a vida eterna que Jesus oferece?
É preciso lembrar que esse tipo de vida carrega muito mais dificuldades do que o preconceito pelo estilo de vida que as pessoas têm sobre nós. A dificuldade em ser cristão está em lidar com erros e falhas constantes, em pregar contra o pecado sabendo que você também é pecador, é encarar todos para defender alguém que você pessoalmente nunca viu (Meu Pai, que vocês dizem ser o seu Deus), você está disposto? Tem coragem?
Minha oração é que tenhamos coragem de encarar quem for para tornar a glória de Deus em algo palpável (e vimos a sua glória...). Que possamos ser como os discípulos que deixando tudo, passaram a seguir Jesus e que não sejamos como os outros que o rejeitaram.

Entrevista com segundas intenções



João 9.18-23

18 Os judeus não acreditaram que ele fora cego e havia sido curado enquanto não mandaram buscar os seus pais. 19 Então perguntaram: “É este o seu filho, o qual vocês dizem que nasceu cego? Como ele pode ver agora?”
20 Responderam os pais: “Sabemos que ele é nosso filho e que nasceu cego. 21 Mas não sabemos como ele pode ver agora ou quem lhe abriu os olhos. Perguntem a ele. Idade ele tem; falará por si mesmo”. 22 Seus pais disseram isso porque tinham medo dos judeus, pois estes já haviam decidido que, se alguém confessasse que Jesus era o Cristo, seria expulso da sinagoga. 23 Foi por isso que seus pais disseram: “Idade ele tem; perguntem a ele”.

Os fariseus recebem a designação de judeus agora, afinal estavam indo contra o mesmo inimigo de toda a classe dominante, sendo assim, são identificados com esta mesma classe.
Assim como hoje em dia, eles não enfrentam seu adversário de frente, antes usam de covardia, já haviam testado o cego, mas sem sucesso, então resolvem levar seus pais, que eram pessoas mais simples e bem menos corajosas, uma vez que não estavam livres do sistema injusto, pelo contrário, eram dependentes dele, não conheciam outra saída, assim é hoje em dia, o povo aceita a opressão por falta de alternativa, não vêem e não procuram ver outra saída, sendo assim, é mais fácil se acomodar e ceder sempre que possível.
Os pais do que ex-cego são o típico cidadão comum, retraído, com muito medo e sem nenhum conhecimento. São chamados para depor, mas vão com muito medo dos “donos do poder”. Assim o povo padece ainda hoje, por falta de entendimento e por se acomodar em um sistema que oprime. Os pais buscam escapar de qualquer “entrevista” dos fariseus, jogam tudo pra cima de seu filho, afinal: “Idade ele tem; falará por si mesmo”.
Interessante que eles julgaram seu filho alguém com idade para falar por si mesmo, afinal de contas, ele era um homem feito. É exatamente esse o objetivo de Jesus, nos fazer pessoas integras, pessoas completas, os pais do ex-cego não possuíam capacidade de enfrentar as autoridades e anunciar o milagre porque não tinham passado por isso ainda, não eram íntegros, não estavam completos ainda.

Encarnação



João 1.14

14 Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós. Vimos a sua glória, glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade.


Esse é o versículo que mais amo na Bíblia inteira, penso que ele narra o maior acontecimento da história. É Importante entender antes de tudo quem é “Aquele que é a Palavra”.
“Logos” tem dois sentidos na Bíblia: “projeto e palavra”. Sendo assim, podemos dizer que o projeto de Deus se tornou real com a encarnação da Palavra.
Deus criou o homem para sua glória, para mostrar sua glória. Quando se encarnou, Jesus realizou o projeto de Deus no homem. Jesus era completamente Deus, e continuou sendo depois que se encarnou, só assim ele pôde ser 100% homem. O homem só pode ser pleno se estiver 100% conectado com Deus.
Nos evangelhos, Jesus é chamado por duas expressões: filho do Homem (Jesus era um homem perfeito) e filho de Deus (Jesus era completamente Deus (Jesus era satisfatoriamente Deus)
Viver tem o mesmo sentido que acampar, sendo assim, ao dizer que Jesus viveu entre nós temos que entender que ele armou sua tenda aqui. Voltando mais um pouco no tempo, veremos que no tempo em que Israel peregrinou no deserto, Deus acompanhava o povo a partir de sua tenda, conhecida como Tenda do Encontro (Ex 33.7-11).
Esta tenda o povo levava pra onde ia, eles sabiam que Deus estava com eles, pois o Espírito de Deus estava na tenda, e quando eles queriam dizer algo para Deus, Moisés ia até a tenda e falava pelo povo. Jesus constitui a nova tenda do encontro, a nova tenda que Deus habita é de carne, é um homem que anda entre nós, que mora aqui e falar com ele é tão simples como falar com qualquer pessoa.
Assim como o povo que era escravo no Egito recebeu o privilégio da liberdade, Jesus oferece esse mesmo privilégio com relação ao pecado que nos escraviza. Ele também nos convida ao Êxodo, ou seja, ao movimento de caminhar rumo a nova Jerusalém, a nossa terra. Quem quer seguí-lo, precisa sair das trevas, a ir para a luz de Jesus.
A glória era sempre reconhecida como fumaça (shekinah), quando a tenda do encontro ficava cheia de fumaça o povo sabia que Deus estava ali. Em Jesus a glória resplandecia, tanto em suas ações em favor das pessoas, como em seu modo de ser e de agir, sua virtude.
Esta glória pode ser vista nas pessoas que seguem a Jesus, a idéia de Jesus em formar um grupo, ensinar essas pessoas e mostrar seu exemplo foi exatamente o de dar continuidade à sua glória, ter pessoas que portassem a glória do mestre.
Jesus não possuía sua forma celestial, mas mesmo assim, sua glória podia ser vista para quem o olhasse com cuidado, interessante notar que na história de Jesus, somente as pessoas de fora (prostitutas, ladrões, etc.) viam a sua glória.
Hoje vemos bandas famosas que usam de fogos de artifício, e varias coisas pra dar luz ao show, pra assustar e tal, isso mostra que a banda não é amadora, mostra que eles podem, mostra grandeza. Não somente bandas, pessoas em posição de alto nível, usam de recursos pra mostrar sua grandeza. Jesus é totalmente o contrario, ele mostra sua gloria, sua grandeza vivendo uma vida simples, no meio de gente pobre, sendo um pobre com eles.
Jesus manifesta então a glória de Deus, mas não como quem a tomou emprestada, o texto diz que ele tem a glória como um filho único, sendo assim, tudo que Deus tem pertence a Jesus como herança.
É a primeira menção de Deus como pai, é um novo conceito para o povo daquela época. João revoluciona a idéia que tinham de Deus naquele tempo, Deus não é aquele ser ameaçador que está com um raio nas mãos para matar quem desobedecer sua vontade, pelo contrário, é um pai amoroso, nos corrige as vezes, mas sempre nos ajuda.
Esse pai amoroso que vimos em Jesus não é mentiroso, ele é um pai amoroso em quem podemos confiar. Jesus, ao contrário de muita gente que vemos por aí, não era falso, não fazia nada para si próprio, e nem buscava prejudicar ninguém.
E é exatamente esse mesmo Jesus que apresentamos, um homem-Deus que se importa e que anda com a gente, que está tão perto que pode sentir nossas dificuldades e conversar com a gente. O que está esperando, ande com ele também.

O Serviço do Reino



A palavra serviço tem muitos sentidos e falar somente usando esta palavra deixa as coisas um tanto quanto suspensas no ar. Assim como falar a palavra cristão, sendo que muitos deram um sentido totalmente diferente a essa palavra.
Falar da igreja não é mais possível também, visto que a mesma se desdobra em inúmeras denominações, e fica difícil definir qualquer generalização para as igrejas existentes. Sendo assim podemos falar de muitas, mas não de todas.
Jesus no entanto sabia no que daria hoje a distribuição e também a distorção de sua palavra e de seus ensinamentos, e cada denominação diz que fala a verdade, como saber então quem está falando a verdade?
Há algumas formas de investigar a verdade, se bem que a própria verdade tem sido questionada como termo, mas não é nossa intenção fazer verificações cientificas ou filosóficas, apenas fazer uma verificação sobre o que é o serviço cristão de fato.
Podemos observar algumas igrejas para saber como estão lidando com a questão do serviço cristão, mas só para dar um rápido relato podemos dizer que o que as igrejas estão fazendo não é nada parecido com serviço, quanto mais com serviço cristão.
Sendo assim podemos ir diretamente para a Bíblia e ver que está escrito sobre o que Jesus fez, se é para saber o que é serviço cristão é bom vermos como o próprio Cristo lidou com isso.
Jesus servia as pessoas, e quando quiseram fazer dele o rei de Israel ele recusou. E citando um caso especial ele jantava com seus discípulos e no meio da refeição ele tomou uma toalha de escravo e lavou os pés dos discípulos e ainda disse a eles que eles teriam que servir uns aos outros, que eles teriam que ajudar ao que tivesse necessidade.
Avaliando isso pelo fato de que a vida de Jesus foi cheia de eventos em que ele se punha junto aos menos favorecidos e os ajudava, ao fato de que ele preferia andar com o povo do que com os poderosos, e ainda devido ao fato de que ele disse que prostitutas e publicanos (gente corrupta) estrariam no céu primeiro que os religiosos, podemos dizer que Jesus explicou com sua vida o que é servir. Isso é serviço cristão.
Mas esse termo está em um imenso mal uso hoje em dia, pessoas inescrupulosas usando descaradamente o nome de Deus para ganhar dinheiro de gente besta, gente dando dinheiro pra igrejas na promessa de uma vida sem problemas. Os valores do reino sendo distorcidos cada vez mais por cada vez mais igrejas.
Mas servir a Cristo continua tendo o mesmo significado e as mesmas atitudes são exigidas de quem quer se denominar cristão. Por mais que muitas igrejas hoje estejam desvirtualizadas do que seja o serviço cristão, ele ainda deve ser o mesmo, ainda que todas as igrejas estivessem agindo de forma contraria ao que está prescrito para ser serviço cristão, o serviço cristão ainda continuaria sendo o mesmo.


A ilusória superioridade do neoateísmo




O artigo abaixo foi publicado na página do facebook "The Atheist Delusion", e diante da dificuldade de encontrar o original, tomei a liberdade de traduzi-lo para compartilhar com os leitores do blog:


O neoateísmo e o efeito Dunning-Kruger

O efeito Dunning-Kruger é um preconceito cognitivo no qual indivíduos não qualificados padecem de uma superioridade ilusória, avaliando - equivocadamente - a sua capacidade muito acima da média. Este preconceito é atribuído a uma inabilidade metacognitiva de reconhecer os seus próprios erros.
Estariam os novos ateus sofrendo do efeito Dunning-Kruger?
Em 1999, dois psicólogos da Cornell University (David dunning e Justin Kruger) apresentaram a hipótese de que pessoas com pouca competência numa determinada atividade tendem a ter excesso de confiança nela. Esta crença exagerada vem da inabilidade de cumprir uma determinada tarefa enquanto, ao mesmo tempo, não se reconhece o seu nível de incompetência. Por outro lado, aqueles que têm competência suficiente para levar a cabo a tarefa, tendem a ter falta de confiança porque eles estão conscientes das suas próprias deficiências, especialmente quando comparam suas habilidades com as dos outros.
Esta observação se tornou linguagem corrente com qualquer número de casos examinados. Assim, por exemplo, o bêbado pensa que ele pode andar sobre uma linha reta porque ele está tão ocupado pensando em como vai fazer isto, que será incapaz de analizar a sua incapacidade de fazê-lo. Ou ainda alguém que usa um celular enquanto dirige está tão concentrado em falar ao telefone ao mesmo tempo em que pilota o carro que ele não notará a significante queda na sua competência de dirigir.
Para ter uma compreensão de iniciante neste campo do estudo, ocorreu-me perguntar a questão: "Estariam os neoateístas sofrendo do efeito Dunning-Kruger?" Por exemplo, muitas das resenhas do livro de Richard Dawkins, "Deus, Um Delírio" ("The God Delusion"), têm apontado a incompetência do autor nas áreas sobre as quais ele escreve. Algumas dessas resenhas não foram escritas por cristãos ou teístas se defendendo dos ataques deles, mas por profissionais não cristãos constrangidos pelo mau uso das suas disciplinas acadêmicas.
Escrevendo no The New York Times em 2007, o jornalista católico Prof. Peter Steinfels notou que as críticas ao livro "Deus, Um Delírio" de Richard Dawkins, vêm não somente de crentes mas também de ateus e descrentes. Ele se referiu às críticas de acadêmicos como o crítico literário de Oxford, Prof. Terry Eagleton, ao crítico literário de Harvard, James Wood, ao biólogo-evolucionista de Rochester, Prof. James H. Orr, e ao filósofo de New York, Prof. Thomas Nagel. E Steinfels poderia ter acrescentado outros como o filósofo e biólogo da Flórida, Prof. Michael Ruse. A principal queixa desses críticos de Richard Dawkins diz respeito à incompetência dele em lidar com o tema de Deus e da teologia.
A desculpa que o prof. Dawkins dá aos críticos, sobre a sua falta de estudo sério de teologia é a pergunta retórica "Você tem que saber 'leprechologia' antes de não acreditar em leprechauns[os folclóricos duendes irlandeses]?" Essa tática contraria o famoso conselho chinês d'A Arte da Guerra: conheça os seus inimigos. Desafortunadamente para Dawkins, aqueles de nós com algum conhecimento de cristianismo não nos abalamos pela sua tirada anti-teísta. Nós sabemos o suficiente para reconhecer a incompetência e a necessidade de uma humildade consideravelmente maior diante dos fatos.
Muitos cristãos têm escrito contra "Deus, Um Delírio", mas o fato de serem crentes faz com que seu ponto de vista ganhe pouca visibilidade da mídia e na opinião pública - sendo relevados com a frase "naturalmente, eles discordariam". Escritores que possuem tanta credibilidade acadêmica como o prof. Dawkins, tais quais o professor de Matemática de Oxford, John Lennox, ou o biólogo que se tornou teólogo, prof. Alistair McGrath, têm publicado críticas valiosas sobre o neoateísmo. O prof. McGrath, que obteve doutorados da Universidade de Oxford tanto em Biologia como em Divindade, se converteu do ateísmo para o cristianismo através da sua "descoberta da filosofia da ciência" e a sua investigação do "que o cristianismo realmente era". Ele escreveu um valioso pequeno livro chamado "O Delírio de Dawkins" ("The Dawkins Delusion").
Menosprezar tais escritos por causa do viés do autor é tão irracional como desprezar os escritos ateus por causa do seu viés. Cada um deles tem que ser avaliado de acordo com os seus méritos.
Aceitar o que eles dizem por causa de suas credenciais acadêmicas também é irracional. Há momentos na vida em que o pequeno garoto na multidão pode ver através da pretensão acadêmica e declarar que o imperador está nu. Naquela ocasião, uma rápida avaliação dos fatos trouxe o riso para ambos os lados. É razoável esperar que eruditos com qualificações acadêmicas de grande reputação irão escrever nas suas áreas de conhecimento e estarão cientes das limitações do seu conhecimento.
Isto nos traz de volta ao efeito Dunning-Kruger, que diz que quanto menos competente você for mais confiante provavelmente você será. Lançar uma campanha mundial sobre assuntos dos quais você sabe pouco e pesquisou menos ainda - omitindo que você intencionalmente não os estudou porque não crê neles - é menos do que aceitável para um debate público genuíno ou uma discussão acadêmica, para não dizer que está falhando na arte da guerra.
Foi o grande herói do prof. Dawkins, Charles Darwin, que escreveu na sua introdução a "A Descendência do Homem": "a ignorância gera confiança com mais frequência do que o conhecimento".

Sou fundamentalista; e você?









Rev. Marcelo Lemos

Fundamentalismo é mais uma daquelas palavras que de tanto ser usada, e indiscriminadamente, corre o risco de não mais ter qualquer significado, se é que ainda tem.
Recentemente, por exemplo, soube que algumas pessoas andam comentando o “fundamentalismo” da nossa Igreja (IARBrasil), provavelmente por nossa recusa em ordenar mulheres. De fato, isso é algo fundamental para nós, de modo que, não existe nada de estranho em nos considerarem fundamentalistas. Na verdade há algo estranho sim, mas isso ficará mais claro no decorrer do texto! O problema talvez esteja no termo “fundamentalismo” em si.

Ainda tomando a Ordenação Feminina como exemplo, para aqueles que a defendem, o dito igualitarismo também é um conceito fundamental e, portanto, seria justo que eles também sejam tidos como fundamentalistas, a seu próprio modo? Indo além, tomando o caso de um liberal, que normalmente usa o termo “fundamentalista” como uma arma para atacar os cristãos mais conservadores, também eles possuem seus próprios fundamentos (nem que seja a falta de fundamento, na pior das hipoteses!). No fim das contas, até os liberais são fundamentalistas...
Justiça seja feita, porém. Há um motivo histórico pelo qual o termo “fundamentalismo” ficou tão surrado, e pejorativo. Quase todo mundo foge dessa palavra... Mas nem sempre foi assim. Quando alguns cristãos americanos resolveram erguer sua voz contra as loucuras da Teologia Liberal, nos Estados Unidos, se auto-denominaram “fundamentalistas”. Nascia, ali, o movimento popularmente chamado Fundamentalismo Bíblico – que nada tem a ver com o que fazem fanáticos ligados ao Islã. O Fundamentalismo Bíblico não era uma nova Igreja, mas um movimento teológico que influenciou muitos ministros e leigos, acabando por impactar dominações inteiras, e dividindo outras no decorrer de sua história.
Originalmente, o movimento Fundamentalista faria um bom trabalho. Seu alvo era manter a ortodoxia de doutrinas centrais ao Cristianismo como a Encarnação, a Concepção Virginal, a Inspiração das Escrituras, a Doutrina do Pecado, e assim por diante. No entanto, o movimento acabou fechando-se em si mesmo, e virou suas costas ao mundo, transformando boa parte do evangelicalismo num gueto irrelevante para a cultura moderna. A Igreja abriu mão do Mandato Cultural, e ao invés de assumir seu papel transformador, resignou-se ao fracasso histórico, lutando para salvar-se como um pequeno rebanho.
Além disso, o movimento Fundamentalista assumiu para si a tarefa da Igreja “pura”, um verdadeiro mito. Mito que ainda não morreu. Boa parte dos chamados neo-puritatos de hoje, só para citar um exemplo, perseguem a mesma fenix. No passado ou no presente, um dos problemas de acreditarmos na possibilidade de uma Igreja pura é não haver mais separação entre doutrinas fundamentais e assuntos secundários, pois tudo passa a ser visto como fundamento de fé, até mesmo as coisas mais inusitadas e pequenas. Num cenário onde tudo é questão fundamental até a menor discordância teológica pode criar uma divisão no corpo, como tem acontecido em muitos casos. Isso também impede o diálogo respeitoso entre as comunidades de fé, e o ecumenismo cristão continua na fase da infância, já que cada um acaba se achando mais 'puro' que o outro, e talvez até mais cristão.
O que impressiona é que cristãos que se declaram reformados possam assumir posturas puristas, já que isso contradiz a própria tradição da Reforma. Tenho uma amiga, cuja família frequenta uma igreja “neo-puritana”. Segundo seu relato, o pessoal lá é tão 'puro' que não aceita cristãos que assistem TV, cantam músicas fora dos Salmos, ou não fazem suas mulheres usarem chapéu durante o culto. Honestamente, acho que eles tem todo direito de servirem a Deus desse modo, assim como eu tenho o direito de usar clamisa clerical, sobrepeliz e típete na Liturgia; o que questiono é seu espírito separatista, quase sectário. Certamente não aprenderam isso com a Reforma. Muito menos com Calvino, de quem são herdeiros.
Isso faz pensar se alguns reformados realmente conhecem a Teologia da Reforma, especialmente a respeito da eclesiologia. João Calvino, por exemplo, afirma em suas Institutas, que podemos buscar a unidade com todas as Igrejas, desde que preguem fielmente a Palavra, e administrem corretamente os Sacramentos. Se tais elementos estão presentes em uma Igreja, podemos manter comunhão com ela, diz Calvino, “mesmo que nelas existam muitas outras faltas!” (Institutas, Livro IV, 1, 12).
Pode parecer que Calvino exigia, então, que os outros cristãos pregassem exatamente como ele, e administrassem os Sacramentos exatamente como ele. Mas não é verdade. Ele vai ainda mais longe, para escândalo de muitos reformados que conheço, e de 'fundamentalistas' de outras tradições evangélicas.
“Vou ainda além: digo que elas podem ter algum vício ou defeito em sua doutrina, ou na maneira de administrar os Sacramentos, e nem por isso devemos nos afastar de sua comunhão” (Instituta, Livro IV, 1, 12).
Surpreendemente, Calvino, a seguir, passa a defender um modelo de unidade cristã que é, desde aqueles dias, uma marca bem distintiva da tradição anglicana, ao qual denominamos “via média”, ou “caminho do meio”. Na verdade, a Igreja Anglicana nasceu nos dias da Reforma, e manteve esse princípio até os dias de hoje. Mas, do que se trata? Segundo esse princípio, existem doutrinas fundamentais e doutrinas secundárias, e uma vez que as doutrinas fundamentais são mantidas, o que é secundário não deve nos separar da comunhão uns com os outros. Em certo sentido, o Anglicanismo não apenas deu um liturgia reformada para os cristãos ocidentais, como também nos legou o verdadeiro ecumenismo cristão. E é exatamente desse ecumenismo cristão que Calvino vai nos falar.
“Porque nem todos os artigos da doutrina são igualmente importantes. Existem alguns tão importantes que ninguém pode questionar que são os fundamentos da Religião cristã. Por exemplo: que existe um só Deus, que Jesus Cristo é Deus e Filho de Deus, que nossa salvação está exclusivamente na misericórdia de Deus, e doutrinas semelhantes a essas” (Idem).
Que temos aqui senão uma declaração apaixonada do ethos anglicano? Paradoxalmente, por esse mesmo ethos muitos reformados atuais nos criticam, como se nós também não fossemos tão reformados quanto eles. Sim, existem pontos de fé que são secundários. Sim, podemos manter comunhão com Igrejas que não pensam exatamente como nós, mesmo quando as consideramos impuras. Afirmar isso não nos faz menos reformados, muito pelo contrário!
“Há outos pontos com os quais nem todas as Igrejas concordam, e nem por isso quebram a unidade. Se uma Igreja, por exemplo, diz que a alma é transportada aos céus logo após a morte, e outra diz, sem se atrever a identificar onde, que simplesmente vivem com Deus, quebram a caridade e o vínculo de união? (…) Com isso nos quer dizer que se surge entre os cristãos alguma diferença em pontos que não são absolutamente essenciais, não devem ocasionar divisões entre eles. Seria muito melhor estar de acordo em tudo; mas como não existe esse que conheça todas as coisas, ou precisaremos romper com todas as outras igrejas, ou precisaremos perdoar a ignorância aos que erram em coisas que não afetam a salvação, e não violam nenhum ponto principal da religião cristã” (Idem).
Quanto iniciei, bem recentemente, a série “Fundamentos de Fé”, um estudo de teologia cristã baseada no Credo Apostólico, afimei exatamente isso. Contudo, recebi algumas criticas interessantes. Se iniciei esse artigo falando daqueles que nos consideram “fundamentalistas”, encerro falando daqueles que nos consideram “liberais”, uma vez afirmarmos que existem pontos doutrinários que são de segunda importãncia... Eu entendo essa crítica vinda de muitos lugares, menos de círculos que se declaram reformados, pois admitir a catolicidade da fé cristã, ou seja, que a Religião Cristã é maior que nosso próprio umbigo, é uma caracterista da própria Teologia Reformada.
Sim, eu, como anglicano, sou fundamentalista: não abro mão daquilo que é doutrina fundamental da Religião de Jesus. E no mais? Bem, marquem um churrasco e a gente conversa...