O artigo abaixo foi publicado na página do facebook "The Atheist
Delusion", e diante da dificuldade de encontrar o original,
tomei a liberdade de traduzi-lo para compartilhar com os leitores do blog:
O neoateísmo e o efeito Dunning-Kruger
O efeito Dunning-Kruger é um preconceito cognitivo no qual
indivíduos não qualificados padecem de uma superioridade ilusória, avaliando -
equivocadamente - a sua capacidade muito acima da média. Este preconceito é
atribuído a uma inabilidade metacognitiva de reconhecer os seus próprios erros.
Estariam os novos ateus sofrendo do efeito Dunning-Kruger?
Em 1999, dois psicólogos da Cornell University (David dunning e
Justin Kruger) apresentaram a hipótese de que pessoas com pouca competência
numa determinada atividade tendem a ter excesso de confiança nela. Esta crença
exagerada vem da inabilidade de cumprir uma determinada tarefa enquanto, ao
mesmo tempo, não se reconhece o seu nível de incompetência. Por outro lado,
aqueles que têm competência suficiente para levar a cabo a tarefa, tendem a ter
falta de confiança porque eles estão conscientes das suas próprias deficiências,
especialmente quando comparam suas habilidades com as dos outros.
Esta observação se tornou linguagem corrente com qualquer número
de casos examinados. Assim, por exemplo, o bêbado pensa que ele pode andar
sobre uma linha reta porque ele está tão ocupado pensando em como vai fazer
isto, que será incapaz de analizar a sua incapacidade de fazê-lo. Ou ainda
alguém que usa um celular enquanto dirige está tão concentrado em falar ao
telefone ao mesmo tempo em que pilota o carro que ele não notará a significante
queda na sua competência de dirigir.
Para ter uma compreensão de iniciante neste campo do estudo,
ocorreu-me perguntar a questão: "Estariam os neoateístas sofrendo do
efeito Dunning-Kruger?" Por exemplo, muitas das resenhas do livro de Richard
Dawkins, "Deus, Um Delírio" ("The God Delusion"), têm
apontado a incompetência do autor nas áreas sobre as quais ele escreve. Algumas
dessas resenhas não foram escritas por cristãos ou teístas se defendendo dos
ataques deles, mas por profissionais não cristãos constrangidos pelo mau uso
das suas disciplinas acadêmicas.
Escrevendo no The New York Times em 2007, o jornalista católico
Prof. Peter Steinfels notou que as críticas ao livro "Deus, Um
Delírio" de Richard Dawkins, vêm não somente de crentes mas também de
ateus e descrentes. Ele se referiu às críticas de acadêmicos como o crítico
literário de Oxford, Prof. Terry Eagleton, ao crítico literário de Harvard,
James Wood, ao biólogo-evolucionista de Rochester, Prof. James H. Orr, e ao
filósofo de New York, Prof. Thomas Nagel. E Steinfels poderia ter acrescentado
outros como o filósofo e biólogo da Flórida, Prof. Michael Ruse. A principal
queixa desses críticos de Richard Dawkins diz respeito à incompetência dele em
lidar com o tema de Deus e da teologia.
A desculpa que o prof. Dawkins dá aos críticos, sobre a sua
falta de estudo sério de teologia é a pergunta retórica "Você tem que
saber 'leprechologia' antes de não acreditar em leprechauns[os folclóricos
duendes irlandeses]?" Essa tática contraria o famoso conselho chinês d'A
Arte da Guerra: conheça os seus inimigos. Desafortunadamente para Dawkins,
aqueles de nós com algum conhecimento de cristianismo não nos abalamos pela sua
tirada anti-teísta. Nós sabemos o suficiente para reconhecer a incompetência e
a necessidade de uma humildade consideravelmente maior diante dos fatos.
Muitos cristãos têm escrito contra "Deus, Um Delírio",
mas o fato de serem crentes faz com que seu ponto de vista ganhe pouca
visibilidade da mídia e na opinião pública - sendo relevados com a frase
"naturalmente, eles discordariam". Escritores que possuem tanta
credibilidade acadêmica como o prof. Dawkins, tais quais o professor de
Matemática de Oxford, John Lennox, ou o biólogo que se tornou teólogo, prof.
Alistair McGrath, têm publicado críticas valiosas sobre o neoateísmo. O prof.
McGrath, que obteve doutorados da Universidade de Oxford tanto em Biologia como
em Divindade, se converteu do ateísmo para o cristianismo através da sua
"descoberta da filosofia da ciência" e a sua investigação do
"que o cristianismo realmente era". Ele escreveu um valioso pequeno
livro chamado "O Delírio de Dawkins" ("The Dawkins
Delusion").
Menosprezar tais escritos por causa do viés do autor é tão
irracional como desprezar os escritos ateus por causa do seu viés. Cada um
deles tem que ser avaliado de acordo com os seus méritos.
Aceitar o que eles dizem por causa de suas credenciais
acadêmicas também é irracional. Há momentos na vida em que o pequeno garoto na
multidão pode ver através da pretensão acadêmica e declarar que o imperador
está nu. Naquela ocasião, uma rápida avaliação dos fatos trouxe o riso para
ambos os lados. É razoável esperar que eruditos com qualificações acadêmicas de
grande reputação irão escrever nas suas áreas de conhecimento e estarão cientes
das limitações do seu conhecimento.
Isto nos traz de volta ao efeito Dunning-Kruger, que diz que
quanto menos competente você for mais confiante provavelmente você será. Lançar
uma campanha mundial sobre assuntos dos quais você sabe pouco e pesquisou menos
ainda - omitindo que você intencionalmente não os estudou porque não crê neles
- é menos do que aceitável para um debate público genuíno ou uma discussão
acadêmica, para não dizer que está falhando na arte da guerra.
Foi o grande herói do prof. Dawkins, Charles Darwin, que
escreveu na sua introdução a "A Descendência do Homem": "a
ignorância gera confiança com mais frequência do que o conhecimento".
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