sábado, 2 de abril de 2011

E o filho se torna o pai



João 8.41-47

41 Vocês estão fazendo as obras do pai de vocês”.

Protestaram eles: “Nós não somos filhos ilegítimos. O único Pai que temos é Deus”.

42 Disse-lhes Jesus: “Se Deus fosse o Pai de vocês, vocês me amariam, pois eu vim de Deus e agora estou aqui. Eu não vim por mim mesmo, mas ele me enviou. 43 Por que a minha linguagem não é clara para vocês? Porque são incapazes de ouvir o que eu digo.

44 “Vocês pertencem ao pai de vocês, o Diabo, e querem realizar o desejo dele. Ele foi homicida desde o princípio e não se apegou à verdade, pois não há verdade nele. Quando mente, fala a sua própria língua, pois é mentiroso e pai da mentira. 45 No entanto, vocês não crêem em mim, porque lhes digo a verdade! 46 Qual de vocês pode me acusar de algum pecado? Se estou falando a verdade, porque vocês não crêem em mim? 47 Aquele que pertence a Deus ouve o que Deus diz. Vocês não o ouvem porque não pertencem a Deus”.


Jesus é capaz de dizer sempre a coisa certa.
“Vocês estão fazendo as obras do pai de vocês!”
Com esta frase Jesus abre a próxima parte de seu discurso, tornando mais evidente suas palavras com relação a origem do que os religiosos faziam. Os dirigentes do templo deixam de fingir que não entendem e protestam contra a afirmação de Jesus, eles negam que sejam filhos de outro que não seja Deus a qualquer custo, e mostram que entenderam o que Jesus dizia (pelo menos em parte), afirmam que Deus é Pai, para com isso, afirmar que são seus filhos
Jesus reafirma que agimos exatamente como nosso verdadeiro pai, ou seja, como quem nos criou, mesmo que de forma involuntária. Os dirigentes do templo, chefes religiosos afirmavam e talvez até tivessem certa vontade de ser descendentes de Abraão, mas suas ações eram instintivamente aprendidas de seu pai, e seu pai não era Abraão, nem Deus. Eles não agiam como se viessem de Deus. Jesus está dizendo que não basta dizer que vem de Deus, na verdade não adianta nada só dizer se isso não procede do que somos.
O que falamos tem que ser alimentado pelo que somos, o que dizemos precisa ser confirmado pelas nossas atitudes, assim era com Jesus, assim precisa ser com a gente também, não adianta nada dizer isso ou aquilo. Se na hora da ação o que fazemos não torna legítimas nossas palavras.
Os religiosos não tinham ação que evidenciasse sua fala de que eram filhos de Deus, e matar Jesus era a maior evidência de todas com relação a isso.
Jesus está mostrando a todos desde o início de seu ministério que era proveniente de Deus, quando ele diz: “pois eu vim de Deus e agora estou aqui, Eu não vim por mim mesmo, mas ele me enviou”. Ele está chamando todos a observarem suas ações e tudo mais de sua vida e ver se algo que ele faz é contrário ao Deus que ele prega. Deus está a favor da vida, Jesus também está.
Seus inimigos não compreendiam Jesus quando ele ia mais a fundo nas questões. A verdade é que os fariseus e os outros inimigos de Jesus não tinham capacidade para aprender o que ele ensinava, eles não prestavam atenção ao que ele dizia, sendo assim, não podiam obedecer, conseqüentemente.
Podemos dizer através desta afirmação que ouvir o que Jesus tem a dizer, entende-lo e segui-lo é devido à capacidade e não escolha, Jesus pode dizer hoje: siga-me quem for capaz!
Mas quem é capaz de seguir, entender e obedecer Jesus? Certamente alguém pode dizer que é capaz de fazê-lo, assim como os fariseus e demais religiosos daquele tempo. É impressionante como a atitude deste tipo de gente não mudou depois de 2 mil anos. A verdade é que ninguém tem capacidade de si mesmo para seguir e obedecer a Deus.
Jesus revela de quem os judeus eram filhos, eles podiam negar, mas suas ações davam evidência exatamente do que Jesus estava dizendo. Não havia como eles fugirem se suas próprias ações, mesmo que eles negassem, suas atitudes mostravam a quem eles obedeciam. Mesmo que eles tivessem uma aparência, o que eles faziam demonstrava a quem obedeciam e não se pode fingir pra sempre, um dia alguém descobre. Da mesma forma que muitos fingem hoje, se vestem de uma certa forma, falam com palavras que evidenciam algo que no fundo não passa de uma mentira.
Muita gente hoje finge ser algo, tanto no meio underground quanto no meio evangélico isso é muito comum, deputados da bancada “evangélica” formando esquemas de corrupção, metaleiros que não fazem nada que mostre na prática a revolução que eles mesmos propõem. Como disse Cazuza, “meus heróis morreram de overdose, meus inimigos estão no poder”!
Jesus talvez tenha compartilhado esse sentimento ao ver o templo, que no passado foi usado para adorar a Deus, agora sendo usado para manter um sistema que oprimia justamente ao pobre e aos menos favorecidos, pessoas a quem a misericórdia de Deus se destina. Infelizmente tem sido assim em muitos lugares hoje em dia, pessoas desprovidas de riquezas tem tido pouco ou nenhum espaço em nossas igrejas, quando tem espaço dentro da igreja, é o espaço que sobra, pois primeiro vem os “irmãos” (se é que se pode chamar de irmão) que tem o “coração” (carteira) mais recheado, depois de acomodar essas pessoas, aí o pobre pode sentar onde sobra, contanto que não fale nada, ou seja, quando tem lugar não tem voz.
Sendo assim, o movimento underground ou a igreja não tem nada de errado em si, mas os problemas são as pessoas que estão na igreja ou no movimento underground.
Jesus sempre disse que com ele é sempre sim, sim! e não não! Ou seguimos o diabo. O problema aqui nesta passagem é que Jesus estava diante de homens que não queriam admitir uma verdade incontestável, eles não eram filhos de Deus.
Jesus afirma categoricamente que o diabo é o pai dos seus opositores, também relembra o fato de que o Diabo sempre foi homicida, a vida que Deus dera a Adão fora tirada no dia em que o diabo entrou em contato com o homem, a mesma serpente que gerou o pecado no coração do homem, estava motivando o pecado dentro do templo. Os inimigos de Jesus somente seguiam a linha de seu pai, que é inimigo de Deus.
Eles afirmavam mentiras ao povo, sobre uma falsa liberdade, uma falsa santidade também, em Jesus nada há de falso, sua vida é integra e é justamente isso que ele oferece.
Jesus denuncia de onde vem a mentira e a morte presente no sistema opressor. Não havia modo de algo bom sair deste sistema, infelizmente alguns líderes hoje são assim também, com postura, mas sem atitude, com palavras de bem, mas ações malignas.
A triste verdade é que o povo estava sendo enganado, a mentira imperava e a morte também, pois a base de tudo estava em alguém que desde o princípio dos tempos é assassino, tudo estava perdido naquele sistema, o melhor a fazer era aderir a outro sistema e acabar com aquele, aceitar e seguir Jesus resolvia o problema, Jesus na verdade não é um sistema, mas um modo de vida.
Jesus não compactua com o sistema opressor, ele não somente não aprova como denuncia a mentira em que vivem e em que incentivam outros a viver, sendo assim, não havia modo de eles aceitarem Jesus, nada havia de semelhança entre o modo de Jesus agir (verdade que dá a vida) e o modo dos fariseus agirem (mentira que mata).
Não há nenhuma semelhança entre Jesus e a igreja que adere ao sistema que oprime o próximo, que humilha o pobre, que leva mais para baixo os miseráveis. Se Jesus procurasse a própria glória da mesma forma que os dirigentes judeus, eles logo o aceitariam, pois estariam diante de alguém semelhante a eles. Mas Jesus é diferente, Jesus anda na contramão, Jesus vai exatamente na direção contrária ao sistema do lucro, do capitalismo selvagem, da religiosidade impiedosa. Sendo assim, era impossível que a verdade de Jesus fosse compatível com a mentira dos religiosos.
Após fazer sua acusação Jesus os questiona sobre sua própria legitimidade, Jesus faz uma pergunta afirmativa para lhes mostrar que tinha integridade, ao contrário de seus opositores. A sua vida dava legitimidade ao seu discurso, a verdade pregada era verdade vivida, a liberdade da qual ele falava era exatamente a liberdade que ele vivia.
O conceito de pecado apresentado por Jesus é outro bem diferente da religião e revoluciona o conceito de pecado que temos. Para Jesus, pecado é ir contra o desígnio de Deus, não importa o que fazemos, pode ser até mesmo algo “bom”. Para Jesus, não importa o que fazemos, se o que fazemos não vem de quem somos, é preciso ser filho de Deus ao invés de simplesmente agir como um. Fingindo, seremos simples atores, e não cristãos de verdade.
É interessante notar como as pessoas querem se parecer com algo hoje. Mulheres que compram coturnos pesados para parecerem metaleiras e depois mal conseguem andar. Vejo caras que gastam muito dinheiro para customizar todo um aparato para ficar com uma aparência de headbanger, tudo inútil. Se não é algo que vem de dentro, não adianta. Da mesma forma, tem gente se vestindo de cristão, compra uma serie de CDs de certos cantores “gospel”, passa a andar com a Bíblia embaixo do braço e a chamar todo mundo de “irmão”, do mesmo modo, se não vier de dentro, não adianta.
Jesus por outro lado não podia ser acusado de pecado em qualquer sentido, suas palavras eram tão excelentes quanto seu modo de agir. Eles, porém, tem a sua lógica e modo de agir que, de acordo com a lógica proposta, lança uma mentira como sendo verdade, sendo assim, a verdade proposta por Jesus parece mentira.
Esta coerência que leva a matar Jesus não permite que aceitem a verdade, e esta é a razão pela qual não conseguem crer em Jesus. Eles estavam tão aprofundados na influência do diabo que não poderiam ver que Jesus lhes dizia a verdade. Como já dito anteriormente, crer em Jesus não é escolha e sim capacidade. Alguém com a mesma influência maligna dos religiosos inimigos de Jesus não consegue crer nele também.
Eles afirmavam que sua “verdade(?)” estava baseada em Deus, o que eles queriam na verdade era fazer Deus de cúmplice da sua mentira, e de seu modo de vida hipócrita, mas é exatamente isso que Jesus pretende ao dizer que ele vem de Deus, e que a evidência de que os religiosos não vem é que eles não podiam crer em Jesus.
Jesus conclui com o pensamento lógico, quem é de Deus ouve o que de Deus diz, simples assim. Jesus sendo filho de Deus, faz as obras que Deus o manda fazer. Suas ações o identificam com Deus da mesma forma que o modo de vida dos discípulos em Antioquia os identificou com Cristo.
Assim deve ser com todos que querem ser chamados de cristãos, ser cristão não é tanto fazer o bem ou ajudar o próximo, ser cristão é ser como Cristo. Jesus, sendo nosso maior exemplo, espera que sejamos como ele é. Se formos como Jesus, faremos as obras que ele fez. Só pode obedecer Deus aqueles que são seus filhos.

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