Pensamentos sobre Hebreus 10.22
Aproximemo-nos, com sincero coração, em
plena certeza de fé.
Os antigos
puritanos chamavam este aproximar-se de “comunhão com Deus”.
Precisamos aprender deles. J. I. Packer afirmou que os puritanos diferem dos
evangélicos contemporâneos, porque para eles:
A comunhão com Deus
era algo muito importante; em comparação ao que pensam os evangélicos
contemporâneos, a comunhão com Deus é algo insignificante. Os puritanos eram
interessados pela comunhão com Deus de um modo que não o somos. A medida de
nosso interesse é mostrada pelo pouco que falamos a respeito deste assunto.
Quando os crentes se reúnem, falam uns com os outros a respeito de suas obras e
seus interesses cristãos, de seus conhecidos cristãos, da situação de suas
igrejas e dos problemas de teologia — mas raramente falam sobre a experiência
diária com Deus (A Quest for Godliness, Wheaton, Ill.: Crossway Books,
p. 215).
De acordo com
Packer, o maior dos puritanos foi John Owen (1616-1683). A própria
comunhão que Owen tinha com Deus é um grande exemplo para nós. Deus cuidou que
Owen e os puritanos sofredores de seus dias vivessem nEle, de um modo que faz a
maior parte de nossa comunhão com Deus parecer superficial. Escrevendo uma
carta durante um período de enfermidade, em 1674, Owen disse a um amigo:
“Cristo é nosso melhor amigo e logo será o nosso único amigo. Peço a Deus, com
todo o meu coração, que eu me fatigue de tudo, exceto da conversa e da comunhão
com Ele” (Peter Toon, God’s Statesman, Greenwood, S. C.: The
Attic Press, p. 153). Deus usou a doença e todas as pressões sofridas por Owen
em sua vida para orientá-lo na comunhão com Ele mesmo e mantê-lo envolvido
nesta comunhão.
Mas Owen também era
intencional em sua comunhão com Deus. Ele disse: “A amizade é mantida e
preservada por meio de visitas; e estas devem ser espontâneas e não somente
motivadas por assuntos urgentes…” (John Owen, Works, VII,
Edinburgh: Banner of Truth Trust, 1965, p. 197). Em outras palavras, em meio a todos os seus labores políticos,
acadêmicos e eclesiásticos, Owen fazia muitas visitas a Deus.
E, quando ele fazia
essas visitas, não ia somente com petições por coisas ou por livramentos de
suas muitas dificuldades. Ele as fazia para ver seu glorioso Amigo e
contemplar-Lhe a grandeza. O último livro que Owen escreveu — quase concluído
quando ele morreu — chama-se Meditações sobre a Glória de Cristo.
Isso nos diz muito a respeito do foco e do resultado da vida de Owen. Neste
livro, ele disse:
A revelação… de
Cristo… merece os mais solenes pensamentos, as melhores de nossas meditações e
nossa maior diligência nelas… Que melhor preparo pode haver [para o nosso
futuro gozo da glória de Cristo] do que a contemplação prévia e constante dessa
glória, na revelação feita no evangelho? (Works, I, 275).
A contemplação que
Owen tinha em mente é formada de, pelo menos, duas coisas. Por um lado, existe
aquilo que ele chamou de “pensamentos solenes” e “melhores meditações” ou, em
outro lugar, “meditações assíduas” e, por outro lado, oração incessante. As
duas são ilustradas em sua obra sobre a Epístola aos Hebreus.
Uma das grandes
realizações de Owen foi o seu comentário, de sete volumes, sobre essa epístola.
Quando o terminou, próximo do fim de sua vida, ele disse: “A minha obra está
completa; é tempo de morrer” (God’s Statesman,p. 168). Como ele realizou
esta grande obra e permaneceu próximo de Deus? Obtemos uma resposta breve no
prefácio daquela obra:
Tenho de afirmar
agora que, depois de toda a minha pesquisa e leitura, a oração e a
meditação assídua têm sido meu único abrigo, bem como os meios mais
proveitosos de obter entendimento e auxílio. Por meio delas, meus pensamentos
foram libertados de muitos embaraços (Works, I, lxxxv).
Era assim que John
Owen se aproximava de Deus, por meio da oração e da meditação assídua, achando
entendimento e liberdade. Esse era um zelo de comunhão com Deus marcado por
entendimento. Esse é o tipo de zelo que desejamos. Esse é o entendimento
pessoal agradável que mantém nosso zelo em seus limites e o faz brilhar com
mais intensidade. Com esse zelo e entendimento, aproximemo-nos, dia após dia,
hora após hora.
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